Não sou e tem gente que é muito melhor. Primeiro axioma. Por
melhor que eu seja, sempre haverá alguém muito melhor.
Segundo axioma: nem tudo depende de mim. Sou muito prática –
se tiver que resolver jogo nos peitos e vou a luta. Comecei a trabalhar cedo,
tive que ouvir que meus sonhos deveriam ser readaptados a realidade que vivo e
fui atrás. Quando você vai atrás de algo com garra e vontade, sendo que só
depende de você, a coisa rola. Foi assim que encarei duas federais e levei até
o final. Fácil só dependia de mim – e das greves. Mas no mercado de trabalho a
coisa não é assim, depende de outras variáveis que não estão no meu controle. Variáveis
que por mais que eu tenha estudado 5 anos de administração e em tese pelo menos
deveria imaginar quais são, eu não faço a menor idéia. Subjetivas, intrínsecas
e que muitas vezes te torturam imaginando onde foi que eu errei. Mas será que
eu errei?
Me inscrevi em trocentos processos de trainee. Assim, digo
trocentos porque nem sei mais quais empresas me candidatei, hoje mesmo recebi
pelo menos 3 negativos. Amanha provavelmente eu receba outro. Um me chamou para
entrevistas e cheguei até a final, porém não passei. Acho que é mais fácil
passar em concurso público do que ser chamada em processo de trainee.
Isso não ajuda a melhorar o estado que estou, completamente
frustrada. Parece simplesmente que as horas estão passando e eu estou
estacionada; as frustrações não se limitam a vida profissional também a vida
pessoal .
Na sexta passada tive uma crise de ansiedade. Cruel. Fiquei com
o lado direito do meu corpo paralisado e o coração parecia ser a única coisa
que funcionava – e funcionava com força. A cabeça era uma completa oficina do
diabo, todos os medos mais primitivos me batiam a porta. Quanto mais batia a
porta menos meu braço respondia.
Acho que surtei. Acho não, tenho certeza que surtei. Estou escrevendo
isso aqui como um desabafo quase que desesperado de alguém que precisa muito
ter pelo menos um foco para digitar. Na minha mesa tem um copo de café frio sem
açúcar, duas caixas de ansiolíticos (sendo um para caso eu sinta que
paralisarei em breve) e um telefone conectado 30 horas na internet me mostrando
tudo aquilo que eu não quero ver – mas meu lado masoquista implora para ver.
Mais um não. Mais um você não serve. Mais um você não
preenche.
Quantos nãos serão necessários para que eu possa recobrar
meu estado normal?
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