13/01/2012

Das coisas que (não) são minhas

Uma das coisas a qual acostumei é não ter privacidade. Não existe uma carta ou documento que eu receba que não seja aberto antes de mim. Nem extratos de banco ou felicitações de aniversário, tudo é aberto e minhas contas postas a mesa da sala jantar. Não me incomodo porque não tenho nada a esconder, meus gastos são com coisas licitas e por ser funcionária pública, basta abrir o jornal do concurso passado e vai saber exatamente quanto ganho.
Minhas gavetas são periodicamente revistadas, bem como minhas bolsas, carteiras, mochilas e sapatos. Os remédios que eu tomo são de conhecimento público, as quantidades e para o quê.
As vezes acho que estão tentando achar uma ogiva nuclear no meu quarto de 9 metros quadrados.
Meus pais sempre foram assim, sem motivo algum e justamente por não ter o que esconder, me importo menos do que deveria exceto quando os meus quereres são indagados.
Eu trabalho desde os 17 anos e sempre paguei minhas contas. Meu nome é limpo no SERASA, SPC e o banco onde sou correntista me ama de paixão. Na minha casa meu pai estipulou - além das óbvias e naturais - algumas contas para pagar, a fim de que eu "administrasse meu dinheiro". Também nunca entendi isso, mas pago religiosamente na vaga esperança de ter pelo menos o meu espaço respeitado. Mas isso não aconteceu, não acontece e nunca acontecerá. Já cheguei em casa e encontrei todas as minhas bolsas jogadas no chão e a ordem do meu pai para dar um fim naquilo, vender, dar, tirar de casa - porque eu "não preciso de tanta bolsa". Todas foram compradas com o meu salário. Já tive que dar explicações sobre um empréstimo que peguei para o Boy Magia no meu nome. E hoje, cheguei em casa, exausta de um dia cansativo do trabalho e ainda tive que ouvir um esporro escrotissimo porque a minha gaveta, do meu quarto está cheia de papel. Aos gritos com direito a todos os vizinhos ouvirem.
Honestamente, eu NÃO ligo de futucarem as minhas coisas mas eu LIGO MUITO da minha vida virar um circo. Onde obviamente eu sou a palhaça.
Estou aqui pensando enquanto escrevo esse texto: porque diabos eu não me rebelo e mando tudo as favas? Falo que é meu e ponto final? Tenho medo. Diálogo nunca foi o forte daqui de casa, normalmente é monólogo onde um dá lição de moral e o outro escuta (oi Mimimi?).
Outra pergunta que não quer calar na minha cabeça é: se há 6 anos eu me sustento sozinha, porque moro com eles ainda? Tenho medo.
Mas a de se convir que para não ter liberdade e ainda pagar contas de casa, é melhor eu arriscar a ter um espaço onde eu possa colocar as cartas na minha mesa e decidir se quero abrir ou não.
Estou cansada, com dor de cabeça, unhas roídas e sem espaço na minha casa. Tudo que eu mais queria agora além de um banho gelado para esfriar a cabeça era fechar o meu mundo para visitação.

02/01/2012

Dois mil e doze

Fogos de artifício, espumante barato, chuva torrencial – assim começou mais um ano da minha vida. Não tenho do que reclamar, a noite foi super agradável na companhia de amigos mais do que queridos, tirando o fato que eu queria que 2011 ficasse para tomar a saideira. Não vou ficar discursando o quanto 2011 foi foda, épico e outras palavras de grandiosidade, o que eu quero falar foi da sensação da virada.

Estava ali, cercada de gente que admiro, adoro e amo, viva e saudável mais um ano, só que com um medo latente. Primeiro eu sou supersticiosa, cafona, eu sei, mas sou.  Segundo eu virei esse ano com mais dúvidas do que respostas e definitivamente odeio muito não saber que curso minha vida vai tomar. 2012 é ano par e tradicionalmente não costuma ser bom, somado com as dúvidas que assolam meu reles ser, estou me borrando de medo.

Durante cinco anos investi com força em mim, de várias formas, mas a principal foi na questão da faculdade. Fiz uma faculdade publica de renome e bem, depois que se está no décimo período eu me perguntei: PUTAMERDA E AGORA? É, e agora? Não consegui trabalhar na área a fim, talvez por ser um curso um tanto quanto saturado e ainda por existirem profissões complementares que há de se convir que fazem a mesma coisa as vezes até por um salário menor. Durante esses cinco anos ouvi sempre que era um curso que não ia me acrescentar muita coisa, curso de gente com dúvida ou preguiçoso, e honestamente isso me ofendia muito, até porque ralei tanto quanto um estudante de engenharia. Bati de frente com todo mundo para levar o curso adiante, o único apoio de verdade que encontrei foi no bofe, fora isso só ouvia que deveria ter feito outra coisa. E agora? Bem, eu acho que deveria ter feito outra coisa. 

Por mais que não pareça, eu sou uma pessoa extremamente organizada com o tempo. Gosto de fazer um quadrilhão de coisas ao mesmo tempo para preencher qualquer possível espaço vazio, e o quanto antes atingir minhas metas. Então já de muito tempo já falava: com 17 termino o ensino técnico, com 23 o superior, aí, com 23 mesmo começa o mestrado, em paralelo faço faculdade de ciências contábeis e depois quando terminar os dois faço o doutorado, caso e tenho filhos. Uhull. O lance é que com 23 eu não vou fazer meu mestrado eu vou é sentar meu traseiro em um banco de faculdade outra vez, e não é para fazer ciências contábeis por prazer, mas para fazer uma faculdade de engenharia – sabe, recuperar o tempo “perdido”. Para meu pavor, tudo mudou e como eu estava crente da vida que nunca mais ia fazer vestibular aha, me lasquei.

Isso está me matando, sei que está. Fazer algo que não quero fazer, mas que vai me garantir um grande salário para enfim desfrutar dos prazeres da classe econômica num vôo para a Europa. Porque também não adiantou fazer o que eu queria sendo que com isso os prazeres da vida – e minha classe econômica – ficaram bem longe da realidade.

Enfim, feliz 2012 para nós.
 
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